Rita Queiroz

Foto: Daianna Quelle Silva

Bio

Rita Queiroz é professora na Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS, há 20 anos. Possui doutorado em Filologia e língua portuguesa pela Universidade de São Paulo – USP. Publicou diversos livros na área de Filologia, com ênfase em edição de documentos antigos, dos séculos XVIII ao XX. No grupo Confraria Poética Feminina, já publicou mais de dez poemas.

Produção Literária

Uma tarde em Quixeramobim

Quixeramobim! Nome encantado! Sempre achei lindo, de uma sonoridade extasiante. Não sei se associava a Querubim, mas o fato é que gostava mesmo assim.

Estando com meu amigo Expedito, cearense lá das bandas de Sobral, falei sobre esse meu sentimento por Quixeramobim quando visitava, consigo, Quixadá. Ele, muito generoso (um iluminado!), me disse: da próxima vez que vier ao Ceará te levarei lá.

Isso aconteceu em fevereiro de 2015, e não é que lá estava eu no Ceará em fins de junho deste ano? Dessa vez houve um tempinho e lá fui eu, com Expedito, Júlio Dinoá (amigo de outras visitas ao Ceará, uma pessoa maravilhosa, generosa também) e Ednalvo, um baiano que foi aos quatro anos de idade para o Pará e lá cresceu, tornando-se um parabaiano, ou seria um baiaraense? Não importa, somos todos desta terra, deste imenso país, tão igual e tão diferente; tão sofrido e tão feliz; tão frio e tão quente; tão feio e tão lindo! Herdeiros de indígenas, portugueses, africanos, italianos, alemães, espanhóis, japoneses etc. Somos mesmo cósmicos!!

Fomos todos a Quixeramobim! Em uma linda tarde do primeiro dia do mês de julho. Tarde ensolarada, quente, mas não tão quente quanto nos meses de verão.

Primeiro lugar a visitar: Memorial de Antônio Conselheiro. Nos frustramos, pois estava fechado para restauração. Mas a biblioteca, que funciona no local, estava aberta, e lá encontramos duas funcionárias muito simpáticas, a nos explicar toda a história. Uma delas nos contou sobre a tragédia de Marica Lessa, conhecida como Guidinha, que foi acusada, no século XIX, de ter mandado o amante, sobrinho de seu marido, matá-lo. Ela foi condenada e, após cumprir a pena em Fortaleza, perambulava pelas ruas a dizer que era inocente. A história foi mote para o romance D. Guidinha do Poço, de Manoel de Oliveira Paiva (1861-1892), publicado postumamente em 1951, mas escrito por volta de 1891. Debruçando-se sobre a documentação, Ismael Pordeus escreveu a obra <em>À margem de “Dona Guidinha do Poço”, na qual faz uma revisão crítica e historiográfica sobre o caso.

Ainda no Memorial de Antônio Conselheiro, conheci o cronista e poeta quixeramobinense Bruno Paulino, que me presenteou com seu segundo livro, A menina da chuva. Ele nos acompanhou nas visitas pela cidade, nos ciceroneando. Partimos para a Casa de Antônio Conselheiro, onde ele nasceu, em 13 de março de 1830. Nesta casa também viveu, a infância e a adolescência, o arquiteto, poeta, compositor Fausto Nilo Costa Junior, mas conhecido como Fausto Nilo. Uma casa de encantos e magias, por certo!

Saindo da Casa de Antônio Conselheiro, fomos à Casa de Câmara e Cadeia, onde funciona hoje a Câmara de Vereadores. Um lindo prédio construído no século XIX, tombado pelo Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural. Na praça onde está localizada esta edificação, também se encontra a Igreja Matriz de Santo Antônio.

Fomos também à ponte sobre o rio Quixeramobim, uma construção metálica do século XIX, feita na Bélgica, e que viabilizou a transposição dos trens pela Rede Férrea. Está um pouco abandonada, contrapondo-se ao lindo cenário natural, também descuidado devido à própria ação destrutiva do homem. Mas tem seus encantos e deve servir para o encontro de muitos casais apaixonados.

Como o nome Quixeramobim sempre me encantou, e como algumas pessoas da minha família, desde que eu era criança, me chamam de cara de Guaxinim, fiz este poema, antes mesmo de conhecer a cidade.

INFÂNCIA

Cara de Guaxinim!

Ou será de Querubim?

Que voa lá pras bandas de Quixeramobim?

Ou será um Serafim?

Que vive como um Benjamim…

Bailando, brincando, sonhando, cantando

Coisas assim…

Quixeramobim é fonte de inspiração para muitos poetas, dentre estes Manoel Bandeira, que lá viveu na década de 1950, tratando de sua tuberculose, e compôs uma crônica intitulada “Saudades de Quixeramobim”. E nosso cicerone e escritor, Bruno Paulino, fez a sua crônica: “Carta para Manoel Bandeira”. Tudo isso visto e falado em frente ao Sobrado, hoje Casa Paroquial, onde morou o poeta.

Que tarde agradável!! Quixeramobim, aguarde-me, pois voltarei mais rápido que um Querubim!!

Publicações

  • QUEIROZ, Rita (Org.). Confraria poética feminina. Guaratinguetá-SP: Penalux, 2016. 236p.

Contato

rcrqueiroz@uol.com.br