Denisson Palumbo

Foto: Max Fonseca

Bio

Movimenta-se nas artes cênicas, embrenha-se nas letras e faz passeios com a música.

Produção Literária

Doze estrofes para um sem-número de vidas

Ao duque dos Banzos

As mortes e o triunfo de Rosalinda (Desamado)

I

Jejuem os julgamentos.

Joguem fora a fome infame

E me matem sem mistério

Minha morte é sem reclame

II

Rosalinda teve a vida feita

E a morte igual, feito receita:

meia colher de culpa cheia

rosto de desprezo a gosto

calada língua bem picada

e ferva tudo em fogo baixo

e sirva tudo em grande tacho

III

Ressurgiu Rosalinda diante de mim

Meretriz dourada dona dessa intriga

Engarguelei ela de gozo e suspiro

Fustiguei Rosalinda até a fadiga

e assim ela morreu quando voltou

pra aprender que eu sou quem te castiga
IV

A cor do corte

O corte quente

O corte em cores

A cor em fria

morte é pintura

que se mistura

numa só tumba

pra dois defuntos
V

Vossa virgem santa

é tão obscena

é plena de vício

Digo isso e Deus

há de perdoar

Esse é seu ofício

VI

é entre as entradas

sagradas do ventre

é entre as entranhas

tamanhas do ventre

do ventre do júbilo

donde surgiremos
VII

ver a morte despedida

despertar em desespero

ver a morte desmedida

no espelho do exagero

o triunfo do invisível

o sabor do impossível

que veneno é bom tempero
ter excesso de enterro

latifúndios de deserto

ter a terra e o desterro

deformar o que for certo

que certeza não tem forma

a moral anda sem norma

e pecado é bom por perto
crer que o sangue do prazer

só conhece o corpo humano

crer que a cruz nos faz sofrer

só aumenta o nosso engano

vamos nós sangrar a santa

vamos nós rasgar a manta

amanhã não cai mais pano
ver o vento, o tom do ar

nos pulmões da sociedade

ver a dança do bilhar

nos castelos da cidade

a largura do prepúcio

a mentira do anúncio

que o delírio é de verdade
ter os membros mastigados

de bandeja ter jantares

e não ter esquartejados

todos sonhos sempre em pares

apalpar sua luz funda

e a célebre bunda

que merece dez altares
crer a lâmina é capacho

nunca corta quem queria

crer a fé que faz despacho

faz também a rezaria

mas, porém… fico no ‘enfim’

pois não há vaso ruim

que se quebre na Bahia
ser caboclo sem cocá,

sem cacique, sem arena

ser quilombo com ifá

com terreiro e pena

desamado ou amado

solitário ou afamado

triunfar, morrer, em cena

 

Poema de sete encruzilhadas (O Exu de Basquiat)

 

Barroquice

BAÍA DE TODOS OS BANDOS
na cara da capital da alegria

os cortiços como cílios

postiçosdespenhascam

a cada piscadela dos olhos secos

sem choro nem vela eu vejo

espelhada uma espelunca

especulada pela bela vista

e fecho a janela de minha lida

guardando meu sorriso pra avenida

pra quando a rainha negra passar

na cara da capital da alegria

com seu conjunto de cordas

cobertos com o sal de todos os santos

que ecoam acalantos de lucros

e balançam berços de aço

remansos de tão ressaqueados

que andam os dias de festa

nesta baía de todos os bandos

de onde cruzeiros transatlânticos

zarpam com os sultanescos sócios

das estrelas de sangue azul . . .

e um mar se afunda nos ossos!

Publicações

  • Entre o pensamento de Lélia Gonzalez e a palavra poética (Universidade Federal do Recôncavo Baiano), 2014;
  • O diferencial da favela. Poesias quebradas de quebrada (Editora Galinha Pulando), 2013;
  • Participa da Antologia Do Conto à Cena: reinventando Jorge Amado (Casa de Palavras), 2012;
  • VÍDEOS: Elegia para Zeca de Magalhães, Doze estrofes para um sem-número de vidas, Ao Duque dos Banzos Casas (com Anderson Petti), Pano de bilhar (com Anderson Petti).