Markus Viny

Foto: MARKUS VINY

Bio

Poeta baiano nascido em Feira de Santana, formado em Medicina-UFBA, especialista em Medicina da Família pela SBMFC, pós-graduado em Psiquiatria e membro fundador do Movimento Pela Vida, projeto que vem prevenindo o suicídio de adolescentes no Povoado de Algodões-BA. Lançou em 2004 seu primeiro livro “A Mar e Outros Verbos” e em 2008 ganhou o Prêmio CDL de Literatura com seu segundo livro de poesia “A Moça Pintada no Tempo e o Eu Indefinido”. Em 2009 ganhou o Troféu Destaque Nas Artes e Letras-MAC na Exposição NÔMADES.  Em 2013, seu poema “Café da Manhã” foi selecionado pelo Prêmio Damário Dacruz de poesia, para participar da coletânea “Outros Riscos” da Fundação Pedro Calmon-SecultBA. Em 2015, seu livro “Os Girassóis da Manhã Seguinte e O Canto Do Pássaro Livre” foi premiado no Concurso Internacional da União Brasileira de Escritores e venceu o II Concurso Nacional de Contos da Associação Brasileira de Psiquiatria com seu primeiro livro de contos “Mania de Limpeza e Outras Loucuras Postas Sobre a Mesa”. Ainda em 2015 foi eleito Membro da Academia de Letras e Artes de Feira de Santana e participou do livro Arcos de Mercúrio-Antologia Poética do Tarô. Com o olhar sempre inquieto, vem observando as minúcias do existir e do saber-se homem.

Produção Literária

Travessia

Íntima confirmação de pele

em sóbria confirmação de ventos…

Até aqui o que se fez

foi atirar a pedra

sobre o silêncio das janelas omissas

e zerar pegadas: rótulos de areia

em cariadas ferrovias,

avistando no escuro com dedos de sol

e apontando atrás do muro

o mote das espumas…

 

Do lado esquerdo do peito

deixo meu trunfo percussivo

e me digo palpitante.

Embaixo dessa manga embutida

trago o coringa que me garantirá eternidades

(minha permanência na próxima cilada)

e em minha mão aberta lê-se:

trem fora dos trilhos

riso fora do rosto

risco dentro do tempo

caminho a ser dito nos mares…

“Doida” Kalú

Doida Kalú sofria de estrabismo de abismos…

Nos seus atritos, sonorizava o sol.

Dizia entender predisposições de abelhas…

Inusitava o breu, agonizando auroras.

Na noite fria prestigiava a lua

Inaugurando gravidades…

Sua maneira de arrepiar vazios ajustava solidões…

 

Nunca estava sozinha

Tinha sempre um amigo invisível

Para labutar nos ouvidos

Escutando as vozes que só ela ouvia

Com uma teimosa e arriscada atenção.

 

De repente, quando ouvia o coro:

“DOI-DA KA-LU-Ú”

“DOI-DA KA-LU-Ú”

Saia correndo atrás das crianças

Atirando paus, pedras

Ou qualquer coisa que suas mãos

Enxergassem mais que seus olhos.

É que para ver a realidade

Se atiçava no presente

E, de vez em quando, embaralhava acasos

Rasurando infinitos.

 

Andava dizendo:

“o olho na parede aumenta precipícios”

“quando fico no escuro, tudo é claridade”

“tenho sede de memória, quando encurto a palavra”

“atrás do muro vedo inconstâncias”

 

Morreu atropelada

Quando corria enlouquecida

Atrás de um menino que só ela via

Correndo e gritando:

“DOI-DA KA-LU-Ú”

“DOI-DA KA-LU-Ú”

Infância

“Triscou,lambeu”

E os meninos correm pelas ruas

Com suas pipas nas alturas nuas

Temperando a vida cortante

Com o vidro de suas linhas oníricas

Empinando no ar afiado

A breve e eterna vontade de sorrir

Com o vento lambendo pirulitos de seda e alegria

 

E seus sorrisos cortando a carne do tempo

Com carretéis de felicidade

Que mumificam no céu

O Sudário da infância medida

Entre as bordas do papel

E os limites da talisca.

Tempo

As crianças brincam

No lado de fora da roda do tempo

E inocentam meu silêncio rabiscado

Enquanto giro, miro e ofusco continuidades…

 

Pulam sobre os ponteiros

Como se estivessem saltando as pedras

No meio do riso que me escapa

Rindo com a seriedade de quem vinga as horas

Extraviando o corpo em sua finitude.

 

Oscilo… Permaneço sentado

Abusivo em minha inquieta atitude

De me colocar diante da infância(roubada,inventada,vivida)

Para fetalizar o tempo

Imunizando a carne de sua combustão

Violando suas unhas e suas senhas

E quando o faço colete a prova de si mesmo

Coexisto em perenidades…

Soteropolitado

Insisto em ver o mar alto

No asfalto quente das retinas

Com suas evidências salinas

Pelos poros urbanos.

 

Transpirante , a cidade sincretiza

E espuma suas verdades gasosas

E nos exila atrás das tensas vidraças

E nos isola entre paredes burguesas

Banguelas solidões que se afagam mudas:

 

Da minha janela indefesa

Manca um sol vadio.

Publicações

  • Os Girassóis Da Manhã Seguinte e O Canto Do Pássaro Livre (Prêmio Vicente de Carvalho/Concurso Internacional da União Brasileira de Escritores 2015), 2015;
  • Arcos de Mercúrio- Antologia Poética do Tarô (Ed. DiaboA4), 2015;
  • Antologia Outros Riscos (Prêmio Damário Dacruz de Poesia/Fundação Pedro Calmon SECULT-BA), 2013;
  • A Moça Pintada No Tempo e O Eu Indefinido (Prêmio CDL de Literatura), 2008;
  • A Mar e Outros Verbos, 2004.

Contato

sidartavinicius@hotmail.com