Bio
Movimenta-se nas artes cênicas, embrenha-se nas letras e faz passeios com a música.
Produção Literária
Doze estrofes para um sem-número de vidas
Ao duque dos Banzos
As mortes e o triunfo de Rosalinda (Desamado)
I
Jejuem os julgamentos.
Joguem fora a fome infame
E me matem sem mistério
Minha morte é sem reclame
II
Rosalinda teve a vida feita
E a morte igual, feito receita:
meia colher de culpa cheia
rosto de desprezo a gosto
calada língua bem picada
e ferva tudo em fogo baixo
e sirva tudo em grande tacho
III
Ressurgiu Rosalinda diante de mim
Meretriz dourada dona dessa intriga
Engarguelei ela de gozo e suspiro
Fustiguei Rosalinda até a fadiga
e assim ela morreu quando voltou
pra aprender que eu sou quem te castiga
IV
A cor do corte
O corte quente
O corte em cores
A cor em fria
morte é pintura
que se mistura
numa só tumba
pra dois defuntos
V
Vossa virgem santa
é tão obscena
é plena de vício
Digo isso e Deus
há de perdoar
Esse é seu ofício
VI
é entre as entradas
sagradas do ventre
é entre as entranhas
tamanhas do ventre
do ventre do júbilo
donde surgiremos
VII
ver a morte despedida
despertar em desespero
ver a morte desmedida
no espelho do exagero
o triunfo do invisível
o sabor do impossível
que veneno é bom tempero
ter excesso de enterro
latifúndios de deserto
ter a terra e o desterro
deformar o que for certo
que certeza não tem forma
a moral anda sem norma
e pecado é bom por perto
crer que o sangue do prazer
só conhece o corpo humano
crer que a cruz nos faz sofrer
só aumenta o nosso engano
vamos nós sangrar a santa
vamos nós rasgar a manta
amanhã não cai mais pano
ver o vento, o tom do ar
nos pulmões da sociedade
ver a dança do bilhar
nos castelos da cidade
a largura do prepúcio
a mentira do anúncio
que o delírio é de verdade
ter os membros mastigados
de bandeja ter jantares
e não ter esquartejados
todos sonhos sempre em pares
apalpar sua luz funda
e a célebre bunda
que merece dez altares
crer a lâmina é capacho
nunca corta quem queria
crer a fé que faz despacho
faz também a rezaria
mas, porém… fico no ‘enfim’
pois não há vaso ruim
que se quebre na Bahia
ser caboclo sem cocá,
sem cacique, sem arena
ser quilombo com ifá
com terreiro e pena
desamado ou amado
solitário ou afamado
triunfar, morrer, em cena
Poema de sete encruzilhadas (O Exu de Basquiat)
Barroquice
BAÍA DE TODOS OS BANDOS
na cara da capital da alegria
os cortiços como cílios
postiçosdespenhascam
a cada piscadela dos olhos secos
sem choro nem vela eu vejo
espelhada uma espelunca
especulada pela bela vista
e fecho a janela de minha lida
guardando meu sorriso pra avenida
pra quando a rainha negra passar
na cara da capital da alegria
com seu conjunto de cordas
cobertos com o sal de todos os santos
que ecoam acalantos de lucros
e balançam berços de aço
remansos de tão ressaqueados
que andam os dias de festa
nesta baía de todos os bandos
de onde cruzeiros transatlânticos
zarpam com os sultanescos sócios
das estrelas de sangue azul . . .
e um mar se afunda nos ossos!
Publicações
- Entre o pensamento de Lélia Gonzalez e a palavra poética (Universidade Federal do Recôncavo Baiano), 2014;
- O diferencial da favela. Poesias quebradas de quebrada (Editora Galinha Pulando), 2013;
- Participa da Antologia Do Conto à Cena: reinventando Jorge Amado (Casa de Palavras), 2012;
- VÍDEOS: Elegia para Zeca de Magalhães, Doze estrofes para um sem-número de vidas, Ao Duque dos Banzos Casas (com Anderson Petti), Pano de bilhar (com Anderson Petti).