A Fundação Cultural do Estado da Bahia tem, nos últimos anos, trabalhado em atividades de mapeamento de produção artística no estado. Com a responsabilidade da construção de políticas públicas para o desenvolvimento de ações que contemplem as sete linguagens artísticas, é mister que estes setores sejam identificados nos 27 territórios de identidade da Bahia.
Quem são nossos artistas, o que criam, como se movimentam na cadeia produtiva, como se relacionam com o poder público e como a Fundação pode trabalhar em conexão com o seu desenvolvimento?
Assim foram construídos mapas para os setores de Circo, de Artes Visuais, de Dança, de Música e agora, com o Mapa da palavra.BA, vamos apresentar o perfil daqueles que atuam no setor de Literatura. A palavra aqui ganha forma fluída de interligação com outras linguagens: a palavra no texto é dramaturgia, a palavra na música é canção, a palavra no hip hop é movimento corporal, a palavra concreta é arte visual, a palavra na pesquisa é documentário.
A poesia, o cordel, a ficção, o conto, a crônica, são formas de contornos mais nítidos, que também cartografam um Mapa da Palavra que nos guia por infinitas expressões da arte.
Apresentamos este primeiro resultado para a possibilidade de uma leitura coletiva, buscando juntos enxergar uma estrutura ampla e significativa, revelando caminhos para um maior diálogo entre seus agentes, na expectativa de alicerçar novos projetos que contribuam com o fomento, difusão e circulação da literatura da Bahia.
Fernanda Tourinho
Diretora da Fundação Cultural do Estado da Bahia
A (a)ventura do Mapa da Palavra
Assim compreendo o Mapa da Palavra.BA, uma ventura e uma aventura por esses relevos diversos, que é a cartoGRAFIA da literatura na Bahia de agora. Acredito que, mergulhar neste portal virtual, seja compreender com muitos sentidos, essa (a)ventura. Passear um tempo, por essas diversas produções literárias, produzidas ao longo desse extenso estado, é sentir a tamanha diversidade dos tipos de produções e expressões, as diferenças estéticas presentes neste recorte e o que distancia ou une diversas(os) autoras(es) e leituras.
Essa (a)ventura começou em 2015, ano em que este projeto foi criado e desenvolvido. Como todo primeiro passo, ele traz erros, medos e, ao mesmo tempo, o fascínio pelas possibilidades de crescimento e envolvimento. Entre o processo de construção do projeto, documentos e instrumentos legais, passando pelo longo período de divulgação e inscrições, desta primeira edição, até o momento da comissão de seleção e, finalmente, a construção deste portal virtual, nós da Coordenação de Literatura, buscamos lidar com o processo, como se lida com uma aprendizagem, não somente no campo institucional e político, mas também no campo poético e pessoal.
A Bahia é um estado com 417 municípios e dentro deste universo, a literatura passa do sertão ao litoral, da métrica ao verso livre, do urbano ao rural, com uma grande diversidade de estilos, temas e particularidades do fazer literário. Deste universo, recebemos neste primeiro cadastramento do Mapa da Palavra.BA, inscrições de 275 autoras(es), dos quais 170 participam deste portal virtual e 32 participam de uma das quatro publicações, que resultam desta primeira edição.
Sabemos que neste estado de 417 municípios, existem muito mais artistas da palavra, que os que estão registrados neste portal. Por conta disso, compreendemos que este é um primeiro recorte, do que podemos identificar como este universo da literatura baiana contemporânea e, entendendo que o setor literário é vivo e está em constante mudança e crescimento, há um planejamento de reabertura deste cadastramento, periodicamente.
Acreditamos que, num primeiro balanço desta (a)ventura, podemos reconhecer algumas surpresas, alguns riscos e algumas felicidades. Neste primeiro recorte, muitas vozes estão inscritas e com este canal de diálogo aberto. Há um retrato literário contemporâneo, do estado, um re-conhecimento da literatura que está sendo produzida atualmente, com uma visão panorâmica de autores e obras, sua diversidade estética e espacial, suas formas de criar com inovações ou tradicionalismos, possibilitando a identificação de textos e contextos e a possível leitura de um estado, através de signos diversos e das relações ‘artistascidadespalavras’.
Deixar essa cartografia exposta ao público é apostar em sua difusão, na troca de experiências e na reflexão. Aqui uma porta aberta aos leitores de língua portuguesa, com possibilidade de acesso aos diversos mundos literários, dentro da Bahia, expondo parte da produção literária que existe no Estado, atualmente, e muitas vezes, encontra-se fora das rotas de leitura e acesso. Uma porta aberta também com o objetivo de aprofundar o intercâmbio entre os próprios artistas da palavra do estado, criando a possibilidade de fortalecer relações e processos criativos, tornando este circuito literário mais potente e visível.
Este portal é parte de um caminho, apenas parte. Um pedaço-prisma, refletindo carências e potencialidades, complementaridades e antagonismos, contribuindo para um maior acesso das singularidades e expressões de várias realidades literárias, dentro de um mesmo estado. Mas como somente parte, esta porta aberta convida a saber mais. Como estas(es) artistas criam? Com quem dialogam? Que campo de forças pesa sobre elas(es)?
Para além da difusão, este portal é também um convite especial à reflexão, sobre a atual realização literária na Bahia.
Karina Rabinovitz
Coordenadora de Literatura da Dirart, da Fundação Cultural do Estado da Bahia
Maria Iris Silveira
Diretora das Artes da Fundação Cultural do Estado da Bahia