Manuela Barreto

Foto: Manuela Barreto

Bio

Manuela Barreto, mestra em Literatura e Diversidade Cultural, pela Universidade Estadual de Feira de Santana, com pesquisa sobre “Estudos de Teorias e Representações Literárias e Culturais, Memória e Representações Identitárias”, produz o blog “Rótulos Poéticos”, com um discurso voltado para conceitos como diferença, deficiência, exclusão, identidade, normatividade e outras representações sócioculturais.

Produção Literária

A estranheza de amar

Você sentou em meio à multidão e observou cada ser humano. Pediu ao menino do isopor uma lata de cerveja, a mais barata, para poder beber mais, e acendeu o cigarro. Não conseguiu respirar, continuou. Você pensou que tudo fosse ser mais fácil, os dois na casa organizada e limpa, um lar tranquilo e cheio de amor. Falhou. Você falhou e perdeu o ar, esmoreceu. Vez ou outra, ainda não consegue respirar, afogado em mágoas e tristezas, na solidão isolada, na maldita parte que te cabe de pesar. Pobre mortal. Destino banal. Firmou-se em seu jeito de ser, em ser o sujeito, de ter,de ser, ser em ter.

Sentiu o amor comer suas entranhas, esvaziar seu barco, sem chegar ao cais. Suas mãos andavam entrelaçadas como correntes arrastadas pela correnteza que se forma com a mudança de tempo, imprevisível e arriscada. O tempo correu e a vida passeou sentimentos, obsoletos e escassos. É duro amar, meu caro rapaz!

Mas você a amou, intransitivo, você se amou, de um amor alheio, e assim, esta narradora o descreve: um peixe fora de si. Congelou. Afogou-se na estranha atmosfera de amar. Amargurou.

É cara, a vida é amarga, amargo o amar, amargou amar! E você mudou, tornou-se arrogante e competitivo, não vibrou com a alegria dela, entranhou-se em dor. A casa abandonada, o corpo desfalecido, as emoções tão intensas que você se descontrolou.

Respire, moço, pegue uma flor, que a sepultura de sua existência está em ser outro, austero e altero! Você a socou – imprevisível. Nesta noite, ela partiria, mas faria muito amor. Ela transou, devorou seu medo e sua covardia. Entregou-se como nunca havia feito, vingou-se e suspirou. Antes de a aurora arrebentar, partiu qual viúva negra, pacífica e inteira. Desde então, a vida o arrastou. E você, estranho, arrasta-se por amor.

Publicações

  • Publicação online de poemas na Antologia Todas as Mãos, que reúne em 480 páginas 400 poesias escritas por 57 poetas do Brasil e da América Latina que participaram como homenageados do Caruru dos 7 Poetas entre 2004 e 2014;
  • Vazante; O sertão de Maria de Cheiro; em: Revista Eletrônica Verbo21 – contos;
  • Seara Vermelha: uma narrativa performativa; em: Tribuna Cultural – Feira de Santana – ensaio.

Links

rotulospoeticos.blogspot.com.br/

Contato

manuela_barreto@live.com