Bio
Poeta, compositor e arte-educador baiano. Autor de diversos títulos de cordel, incluindo uma premiação nacional, primeiro lugar, em concurso realizado pela Fundação Cultural do Estado da Bahia: I Prêmio Nacional de
Literatura de Cordel – 2004. Obteve título de Menção Honrosa no II Concurso Nacional de Poesia de Colatina/ES – 2005. Eleito, por voto popular, o melhor Cordelista da Bahia, em concurso realizado pela Rádio Sociedade da Bahia – 2009. Osmar ministra oficinas literárias desde 2005, já tendo estado em São Paulo e realizado oficinas e palestras em importantes instituições como a Universidade Federal da Bahia (Ufba), Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Fundação Pedro Calmon e Oficinas Culturais Cândido Portinari – SP.
Produção Literária
A Fabulosa História do Reino Sem Razão
Aventuras fabulosas
Nunca foram meu afã,
Resolvi escrever essa
Com a paz de Oxalufã,
Que nos sete pés aprume,
Amarre, sele, e arrume
E nunca a deixe insã.
Que depois de fecundada
Nasça viva ou nasça morta,
Dê é gosto, contragosto,
Fique ereta ou se entorta,
Já não é do meu problema,
Pra quem não ler tem o lema:
O caminho é o da porta.
Para serventia da casa,
Vou contar a fantasia,
Duma terra que só reina
A mais imensa alegria;
É terra de homem novo,
Onde até rei é do povo
E o abecê é poesia.
É o Reino-Sem-Razão,
Pra lá de São Saruê,
Leitor não ouviu falar,
É que não tem lá TV,
Rádio, celular e Net
Só se chega com o frete
Da estação Berê-Bedê.
Pegue o buzu utopia,
Que passa no infinito,
A parada obrigatória
É no vale do Sem-Mito,
Na comuna Sem-Usura
Onde a vida inda é dura,
Porém não se vive aflito.
Conte menos dum segundo,
É o Reino-Sem-Razão;
Quando se chega não sabe,
Lá não existe estação,
Só um letreiro chinfrim
Que diz: “companheiro o fim
Também é iniciação”.
Crianças não sem razão
São os mais belos Erês;
As escolas não castigam
São verdadeiros Ilês,
Ensinam sabedorias
Das antigas profecias
Contra nossa estupidez.
Não há razão pra apanhar
Em casa nem na escola,
Não há menino de rua,
Não há razão pra esmola;
Alegres nos zunzunzuns,
Cantarolam ratibuns
Ou então se joga bola.
Jovens escrevem bons versos,
Exercitam profissões,
Amam calorosamente
Sem razões pra perversões,
Não são bestas otimistas
Nem são os “sábios” niilistas,
Cultivam as emoções.
A tal de contracultura,
Mal que ataca a juventude,
É conversa das antigas
De gente sem atitude,
Só nega, se não afirma
O que por razão confirma
Num curto sol amiúde.
Jovem e trabalhador
No reino são unidos
Como flor e beija-flor,
Todos os dois entendidos;
A teoria e a prática,
A estratégia e a tática,
Fazem parte dos sentidos.
Avante, os peões massudos
Sem razão pra ilusão;
Avante, a gente humilde,
O quebranto de opressão
Brilha como pirilampo
Ao anoitecer do campo,
Encandeia a criação.
Trabalhador é humano
Sem razão pra ser camelo;
Fortes braços, mentes sábias
Fazem seu próprio novelo;
Sem nenhum desassossego,
Sem razão para arrego
Não ferra o lombo com selo.
Quando adoece no reino
Omolu, Obaluaê
E Caruana são médicos,
Não deixa o povo à mercê,
Medicina companheira
Sem razão de fileira,
Sem demais bereguedê.
Num passeio pelo reino
Se escuta um baticum,
Ancião tocando samba,
Coco num ziriguidum,
O velho aposentado
No reino não é atado,
Faz é muito batifum.
Os poetas são populares,
No reino se pode ver:
Décima no pé-quebrado
É bonito de se ler,
Versos cruzados e motes
Não precisam de dotes
Pra ser capaz de fazer.
Sem razão pra ser difícil
O verso sai é perfeito,
Sem razão de não ser lido
Se forma dentro do peito,
O verso não é loucura
E o poema perdura
Se a metáfora tem jeito.
O poeta canta a vida,
Observa com a agudeza,
Tem olhar duma águia,
É livre na natureza;
Canta o trigo, canta o pão,
Canta o universo e o grão
Com precisão e certeza.
Como o leitor pode ver,
Nesse reino rei não cabe;
O artifício é a fábula,
O leitor também já sabe,
Então prossigo a história
Com um rei sem memória
Nem razão de que se gabe.
No reino há muito tempo
Houve um grande clarão,
Como os raios de Xangô
Romperam num só trovão,
Era a luz do justiceiro
A alumiar o terreiro,
Acender toda nação.
Foi nobre desmiolado,
Invertendo suas cabeças;
Foi a plebe revoltada,
Tudo ficou às avessas;
O rei sem razão de ser
Ficou sem nenhum poder
O reino foi às travessas.
Do reino mudou-se o nome,
Sem-razão foi batizado;
Se deu novo equilíbrio
Como já era esperado,
Brotaram assim as flores,
Sucumbiram-se enfim dores
Este foi o resultado.
A história que se finda
Cumpre seu itinerário,
Por meu lado cumpro o meu,
Terço gentil bestiário
Dum reino da liberdade,
Mesmo não sendo verdade
É do meu abecedário.
Pra fechar com um sumário,
Peço ao leitor atenção
No ditado que pensei
Ao começar esta ação,
Refleti em um segundo:
Que razão não faz o mundo,
O mundo que faz razão.
Publicações
- Soneto X (da vida); em: Antologia Transe Poético, 2016 – poema;
- Do Tempo de Amar; em: Antologia de Poemas Projeto Poesia em Trânsito, 2014;
- Dalma e Francisco, 2012 – livreto de cordel;
- O Caso do Quilombo Rio dos Macacos, 2011 – livreto de cordel;
- Canhoto no Tempo da Pornografia ou Nem Todo Abismo é de Rosas, 2009 – livreto de cordel;
- Abecê da Natureza Humana, 2008 – livreto de cordel;
- Terceira Margem; em: Antologia Secretária Municipal de Cultura Colatina-ES, 2007 – poema;
- A Fabulosa História do Reino-Sem-Razão; Histórias e Lendas de Oxalá – O Maior Orixá da Bahia; Seu Jiló e as Histórias Perdidas no Tempo; em: coletânea publicada pela Fundação Cultural do Estado da Bahia, 2005;
- Seu Iliberto e os seus sete encostos, 2004 – livreto de cordel.