Bio
Economista; Mestra em Desenvolvimento Social-CE, reconhecido pela Universidade Autônoma de Barcelona; Possui curso de doutorado em Economia Aplicada na Universidade Autônoma de Barcelona/Espanha; Especialização em Gestão de Qualidade Total; Especialização em Controle de Qualidade, em 1996, no Japão. Curso de Poesia e Literatura no Canadá, com a escritora e poeta Carole Langille, 2006. É membro da Academia de Letras e Artes do Nordeste – ALANE –AL, Academia Maceioense de Letras – Maceió-AL, Academia Alagoana de Cultura-AL, Sociedade Brasileira de Médicos Escritores – AL/BR SOBRAMES e Academia Literária dos Magistrados de Alagoas. Ganhou o Troféu Dia Internacional da Mulher pela Academia de Letras e Artes do Nordeste, 2008-ALANE, Troféu Poetisa pela Academia Maceioense de Letras-AML, Diplomas de Honra ao Mérito pela ALANE e AML. Diploma e placa de Honra ao Mérito pelos serviços prestados a Academia de Letras e Artes do Nordeste, 2009. É Autora dos encartes para a Gazeta de Alagoas sobre Nise da Silveira, Clara Charf e Théo Brandão. Organizadora da Antologia de Poetas alagoanos participando deste trabalho também com poemas. Crônicas e poemas publicados em jornais, Antologias e Revistas, destacando-se às publicações: Letras e Artes da Academia de Letras e Artes de Pernambuco, números 17 e 18 de 2009/20010, Revista da Academia Alagoana de Cultura. Dicionário de Mulheres Autoras de Hilda Flores-2011, Relato no Dicionario Mulheres de Alagoas ontem e hoje,2007. 68-A Geração que queria mudar o mundo – RELATOS maio/2011. Participou de várias Bienais no Rio de Janeiro,São Paulo, Bahia e Alagoas.
Membro da União Brasileira dos Escritores – UBE-PE. Fez lançamento de livros no Japão em 2006, 2008 e 2014. Idealizadora e coordenadora dos documentários “Vou Contar para os Meus Filhos” e “A Mesa Vermelha”.
Produção Literária
A MULHER DE ROXO
O relógio de Kátia parara. Não sabia exatamente a hora. O céu estava nublado e dificultava essa precisão que ela fazia com maestria, olhando a posição do grande astro luz. Caminhava na rua Chile, a rua mais elegante da capital baiana, onde havia as lojas Duas Américas, Slopper e outras famosas da época. Retornava da aula de piano no Conservatório de música na rua Carlos Gomes e, como sempre, aproveitava os dias das aulas para dar uma voltinha nessa rua que a atraía pelas vitrines e movimentos das pessoas no vai-e-vem da moda. A cada passo, sua imaginação transbordava em histórias onde figurava sempre como alguma atuante. Nunca conseguira se distanciar de sua ficção. Entrava na narração de corpo e alma buscando afinidades com os fatos vividos. Acabara de passar no vestibular e, devido a suas idas aos laboratórios da Faculdade e a suas experiências com reações químicas, construía personagens mágicos, verdadeiros alquimistas. E, pensando numa dessas suas histórias, ela quase se bateu com uma mulher toda de roxo que costumava ficar para lá e para cá na famosa rua Chile. Portava um buquê de flores nas mãos e seu batom vermelho, bastante exagerado, saía dos lábios, tornando-a uma pessoa estranha. Sua aparência despertava medo às crianças e loucura aos demais. No entanto, sua constância na famosa rua de Salvador, com o tempo, passou a ser um adicional indispensável à vida da cidade. Uma figura folclórica, alvo de muitas conjecturas de artistas baianos interessados em conhecê-la. Uns falavam ela ter perdido seu noivo de forma trágica ou ter sido abandonada na Igreja no dia do casamento e, por isso ou aquilo, enlouquecera. Uma mulher rica que perdera sua fortuna. Não importa. Temos de voltar nossa atenção para o que descobriu Kátia quando quase se bateu com a mulher de roxo e sua imaginação se intrometeu na vida dessa personagem.
– Boa-tarde! Qual o seu nome?
– Florinda. Por que pergunta? Ninguém fala comigo e nem chega perto.
– Tenho um convite a lhe fazer. Você me conta sua história e eu lhe atendo um pedido, desde que eu possa. Nada impossível.
– O que é impossível?
– Não posso mandar chover, nem ressuscitar algum morto.
– Entendo, você não é Deus.
– Isso mesmo.
– Então não posso contar-lhe minha história. Porque você não é ele. E não vai realizar meu desejo.
– Qual seria? Pode me dizer?
– Por que lhe diria?
– Não sei. Talvez porque queira ser sua amiga, por ser a primeira pessoa a lhe perguntar estas coisas.
– Amiga? Tem muito tempo que não ouço esta palavra. E nem sei mais o que significa. A palavra que mais ouço é louca. Dizem que eu sou louca. Agora deram para tirar minha foto, convidar-me para algumas festas. Tornei-me um objeto raro da cidade. Sou no máximo um animal de estimação para alguns. Ofereceram-me médico, medicamentos, tecidos de que precisar. Virei inspiração para cinema e pintores, ganhei até poemas!
– Você nada tem de louca! Ao contrário, revela sabedoria. Mas por que este protesto? Por que escolher viver assim? Parecendo louca sem ser?
– Você não pode atender a meu pedido, então não posso contar-lhe minha história. Até outro dia.
– Sim, Florinda. Até outro dia.
As conversas entre as duas se tornaram constantes. A cada diálogo, mais Kátia conhecia a estranha amiga. Um dia resolveu ir até seu abrigo na Baixa dos Sapateiros. Florinda lhe mostrou umas fotos antigas onde ela aparecia jovem, vestida com todo o luxo. Disse-lhe suas roupas virem de Paris e que descendia de uma família rica. Mostrou-lhe também a foto de um jovem que ela lhe disse ser seu noivo. Morrera tuberculoso na semana do casamento. Pouco a pouco a mulher de roxo contava sua vida. Kátia estava aprendendo com ela o valor de uma amizade baseada na confiança. Estava aprendendo a ver o mundo com novos paradigmas. Aquela mulher não era louca como pensou da primeira vez que a viu. Apenas protestava contra as amarguras da vida, contra o que não podia entender. Tivera sua felicidade, na sua compreensão sobre os reveses da vida, podada. Seu pedido impossível deveria ser a volta do seu noivo das profundezas da morte.
Kátia não deixava de pensar na amiga da rua Chile e, passada uma semana, após sua última conversa com ela, tomou a decisão de ajudá-la.
– Florinda, pode me acompanhar? Hoje à noite farei umas experiências no laboratório de Química da Faculdade e vou tentar que você fale com seu noivo. Descobri uma fórmula que, se tomarmos, poderemos ir a outros mundos; basta pensar com quem desejamos nos encontrar.
– Verdade? É tudo que quero, amiga. Você não disse que não era Deus?
– Não sou, Florinda. Eu não posso trazer seu noivo de volta. Você irá apenas conversar com ele de vez em quando.
– Vou com você. Tenho de me arrumar. Ele não pode me ver assim.
– Isso é comigo. Pode deixar. Comprei um vestido novo confeccionado com tecido das Duas Américas, brincos e pulseiras da Slopper e vai ficar bem bonita. Comprei um chapéu também.
No laboratório, a alquimista contou com a ajuda de dois colegas amigos: Victor e Miguel. Eles preparavam a fórmula desejada, enquanto Florinda se arrumava. Quando se olhou no espelho, nem ela mesma acreditou no que viu. Era outra pessoa. Sentou-se na poltrona e disse estar preparada. Kátia iria beber a porção também porque era necessário estar perto da amiga para quaisquer eventualidades.
As duas se viram em um lugar montanhoso com muitas flores em volta e um céu róseo e azul com mesclas lilases. Ao longe um rapaz surgiu. Kátia se escondeu entre os arbustos e presenciou o encontro fantástico. Rodolfo não caminhava, ele flutuava acima do solo. Parou em frente à sua amada tomada de emoção. Tocaram-se, e o abraço foi demorado. Sem palavras. Não precisavam. O que fez a alquimista pensar o grande amor deles não necessitar dizer nada porque já sabiam tudo um do outro. As almas se locupletavam. Hora de ir. O efeito da porção estava acabando. Então, meio sonolentas, viram-se no laboratório onde tudo se iniciara. Miguel e Victor as olhavam curiosos. Florinda estava confusa. Enquanto Kátia a levava de volta ao abrigo, repetira muitas vezes obrigada.
Outras noites de encontro entre ela e seu amado se sucederam. A mulher de roxo assumira os dois papéis: o de uma figura lendária do folclore baiano e o da enamorada que visitava o noivo no além. Quando partiu bem idosa, encontraram em seu refúgio vestidos de todas as cores e ninguém soube onde ela os usou. No funeral de Florinda, a alquimista e os dois amigos lá estavam e decidiram enterrar a fórmula junto com ela.
Publicações
- Curtos contos e Poemas (Ed. Bagaço), 2012;
- Colunista literária do Jornal Semanário , Maceió-AL. 2003-2010;
- Novos Crisântemos – Raízes da Amizade Brasil e Japão (Editora Elógica), 2008 – romance;
- Memória: Mergulho no Passado- A Ditadura que Vivi (Editora Elógica), 2007 – romance;
- Crisântemos Vermelhos, 2003 – romance;
- Pálidos Crisântemos (Ed HD Livros), 1999 – romance;
- O Habitante de Sísifo I,II E III Encarte biográfico sobre Nise da Silveira, Théo Brandão e Clara Charf; em: Jornal Gazeta de Alagoas - Ficção científica infanto juvenil;
- Antologia Brasileira de Haicai -RJ Antologia de poemas - Maceió-AL Revistas Literárias e jornais Recife-PE.